Entraram comigo num quarto frio, muito frio, silencioso, os únicos sons eram 'PI, PI, PI' era a UTI materna. Me passaram da maca pra cama junto com os fios que estavam agarrados a mim e atrás de mim um novo monitor, esse eu não conseguia ver, nem entortando a cabeça. O maqueiro foi embora, veio uma enfermeira, perguntou se eu estava me sentindo bem, me cobriu e falou pra mim descansar... Eu ainda não estava sentindo as pernas, mas o sono horrível já tinha passado, eu estava era inquieta, não estava entendendo nada... O médico da UTI chegou perto de mim, muito carismático, disse que eu ficaria ali 24 horas pra terminar o uso do sulfato de magnésio e depois seria liberada. 24 horas????????
Eu perguntei sobre a nenem, o que ela ia mamar e ele disse que a minha mãe podia trazer ela pra mamar e depois levar de novo, mas que o berçario também daria complemento. COMPLEMENTO? uhum... mais essa agora.
21:00 foi quando sai do jejum e me trouxeram 4 bolachas e um copo de suco que parecia maracuja mas tinha gosto de manga. O dia todo em jejum, isso não aliviou nem o ronco do estomago, bebi com tanta pressa que deixei derramar no roupão... que vontade de chorar, tinha acabado de trocar o plantão, tinha entrado uma enfermeira ruiva com uma cara de tão séria, eu queria sumir pra não ter que pedir pra virem me trocar, mas criei coragem e falei que deixei derramar...
Pelo menos um relogio tinha de frente pra mim, eu não tirava o olho dele esperando minha mãe entrar com a Melinda, eu estava louca pra segurar ela no colo, já tinha cerca de 4 horas que ela tinha nascido, certamente ja devia estar alimentada... Passou 22h, 23h, 00h a enfermeira com cara de brava passou e disse que achou que eu a estava dormindo, eu perguntei da nenem, se ela não viria pra mamar, e ela disse "só amanhã".
Eu estava secando o relogio desde que tinha chego pra nada... Fiquei triste, muito triste, chorei, mas eu não queria permitir esse sentimento em mim, eu tava ali mas a Melinda estava no quarto em perfeito estado, isso já era o bastante.
A madrugada foi muito longa, eu pensava em tudo, o sono não vinha, senti tanta raiva da obstetra que me acompanhou a gravidez toda dizendo que a minha pressão alta era do calor, da ansiedade, e deixou me encaminhar pra um acompanhamento mais sério que era o que eu precisava... Por culpa da negligencia dela eu estava naquela situação, por culpa dela corremos tanto risco. Mas uma hora o cansaço me venceu e eu dormi.
Amanheceu, dia 08-11 acho que era umas 5h quando eu estava olhando pra porta e minha mãe abriu um pouquinho e acenou pra mim me mostrando a mel toda embaladinha no colo dela, mas ela não entrou e saiu. Acho que eram 7h quando liberaram ela pra entrar, a Melinda veio pra mim... Meu Deus, eu estava segurando minha bebezinha pela primeira vez, ela estava bem acordada e minha mãe disse que ela estava com fome, que alegria no coração... Botei ela no peito com a segurança e a experiência de uma mãe de segunda viagem, a pega dela foi na hora, certa e forte.
Mel estava linda, mas a mamãe ultra mega inchada ainda. |
Eu admirei tanto, cheirei, sacudi... mas a mamada terminou, e a Melinda teve que sair com a minha mãe, não podia ficar ali pelo risco de infecção. Depois que ela saiu eu vi o Du na porta com a Mel no colo, não pode entrar mas eu fiquei emocionada em ver eles juntos, como eu queria estar lá com eles também...
Trocou o plantão, a bolsa de sulfato de magnesio tinha acabado, e a enfermeira veio colocar outra, disse que depois dessa tinha só mais uma. OI? aquele trosso demorava uma eternidade pra pingar uma vez e ainda tinha mais duas bolsas? Outra coisa importante a falar tbm é que essa medicação me dava uns efeitos surreais, meu rosto parecia que pegava fogo toda vez que entrava com uma bolsa de sulfato nova. (O uso de sulfato de magnésio é recomendado em todos os casos de pré-eclâmpsia grave e eclâmpsia para prevenção e tratamento das crises convulsivas. Da mesma forma, o tratamento dos picos hipertensivos é recomendado.)
Chegou a hora de me levantar e tomar banho, duas estagiarias bem novinhas que me ajudaram, andei bem bem de vagar, eu estava sentindo minha respiração muito cansada, depois do banho começou o horario de visita, só podia duas pessoas diferentes por dia. Entrou o Dudu com a Mel, ele estava com uma carinha de dó de mim, conversamos um pouco, depois ele saiu e veio minha mãe. Melinda mamava muito bem mas ainda não tinha descido o leite, só o colostro, eu tinha muito medo dela ficar dependente do complemento. Depois que minha mãe saia com ela eu ficava ansiosa pra que desse a hora da proxima mamada de novo, pra ficar admirando ela, abraçando, só assim ficavamos juntas.
Minha respiração continuava cansada, sabe quando agente faz força pra puxar o ar? eu estava quase pedindo pelo oxigenio... mas ai olhei pra menina da cama ao lado, quase 3 semanas de UTI dependente do oxigenio, ate banho ela tomava na cama, nos olhos dela dava pra ver a falta de esperança dela. Eu não queria ficar assim... fiquei com medo também de acharem que eu precisava ficar mais um tempo, então guardei a dificuldade em respirar pra mim.
O dia se arrastou, completei as 24 horas no sulfato mas não tive alta da UTI, disseram que não tinha leito disponivel nas enfermarias, mas estavam omitindo que queriam ver como eu ia me sair sem a medicação. Isso foi um tiro no meu coração, antes me diziam que eu só ia ficar até completar 24 horas, e agora ia ficar por tempo indeterminado? Meu Deus...
Meus braços estavam doendo demais, era uma dificuldade pra amamentar, passa fio pra um lado, passa fio pro outro, a melinda no meio, alguma coisinha soltava ai fazia um barulhão, fora o esparadrapo dos acessos com sangue porque meu braço não tava aguentando o peso dos fios, mais o acesso e o aparelho da pressão que eu não podia tirar. Eu chorei de novo...
Por coisa de Deus o plantão mudou outra vez e um enfermeiro maravilhoso deixou a melinda passar a noite comigo pra minha mãe poder descansar, a maternidade estava cheia e minha mãe tinha medo de deixar a mel no bercinho, só dormia com ela no colo e só ia no banheiro quando o dudu chegava, tadinha da minha mãe. A mel mamou a noite quase todinha, pelo menos umas 3 horas ou 4 minha mãe descansou. (09-11) Quando amanheceu o pediatra veio e disse que estava tirando o complemento dela porque ela estava mamando muito bem, minha mãe entrava praticamente de 1 em 1 hora pra trazer ela, e ela vinha fazendo um escandalo de fome, mamae adorava né por ela no peitinho.
O plantão mudou de novo, eu sempre ficava aflita com as trocas de plantão porque isso influenciava e muito no tempo que a mel passava comigo. Me tiraram um dos acessos, e os fios, só fiquei com o aparelho da pressão. De 10 em 10 minutos as estagiárias vinham aferir a pressão e verificar temperatura durante umas 2 horas, eu estava tão estressada que não conseguia esconder mais. No final da tarde a enfermeira passou dizendo que eu ia naquela hora pra enfermaria, deixei a UTI sendo levada na cadeira mas antes desejei boa sorte e que Deus abençoasse as duas meninas que tinham ficado.
Logo que cheguei na enfermaria o Dudu chegou, ele podia ficar o tempo que quisesse porque era pai, e minha mãe tambem podia porque era acompanhante. Ali eu ja não estava mais me sentindo sozinha... Pra completar minha alegria o leite tinha descido!
No dia seguinte 10/11 acordei um pouco assustada, a enfermeira verificou a pressão e estava 14x8, fez questão de escrever bem grande na minha pasta só porque pra comprometer minha alta. Tomei os remédios, bebi bastante água, tomei banho, estava bem tensa, tudo que eu queria era ir pra casa... Nicolly estava de casa em casa desde o dia 07, um pouco com minha prima, um pouco com minha vó, quando Dudu não estava no hospital ela ficava com ele, eu estava doida pra ir pra casa, apresentar a Mel pra sua irmazinha.
A médica obstetra passou, primeiro olhou meus pontos, checou se o colostro ja tinha virado leite, verificou a pressão, e deu 15x7. Ela conversou comigo dizendo que ia tentar liberar minha alta, mas que era incerto porque eu ja estava com duas subidas seguidas de pressão, ela saiu, quando voltou disse que não seria possível. Me explicou que eu tinha dado entrada com um quadro sério de pré eclampsia, que a minha PA oscilava e ficava alta demais durante a cirurgia, que eu tinha riscos de desenvolver uma eclampsia e precisava de mais exames. Não consegui esconder a cara de insatisfeita, eu estava ali desde o dia 07, tempo não faltou para que todos os exames fossem feitos, eu não aguentava mais toda hora alguém metendo a mão em mim pra verificar alguma coisa, aquela barulheira de 10 bebes chorando ao mesmo tempo. Parecia que o pesadelo ia começar todo de novo, medo de voltar pra UTI, medo da Melinda receber alta e eu ficar, medo, medo, medo, AHHHHHHHHH Quanto tempo só sentindo medo.
Comecei a ficar agitada, a pediatra passou e deu alta pra Melinda, pronto... Fiquei mais agitada, a conselheira tutelar da maternidade veio falar comigo, disse que eu poderia ir embora assinando um termo de responsabilidade se eu quisesse, mas que eu tinha que entender que ninguém estava me mantendo ali sem necessidade. Ela viu que não adiantou muito e chamou a psicologa, eu expliquei que estava me sentindo otima, que estava ficando nervosa porque queria ir embora, que tinha uma filha menor me esperando em casa e que em casa eu iria ficar terminar de me recuperar. Finalmente conversaram medica e psicologa e concluiram que ficar ali não iria me ajudar, me deram alta pedindo pra continuar a dieta do sal e 'das emoções'.
Mau elas viraram as costas e eu ja fui arrumando minhas coisas e ligando pro Dudu vir buscar agente. Deixei a maternidade em uma felicidade tão grande, nossa historia ali nunca vai cair no esquecimento, a Melinda vai crescer me ouvindo dizer que ela nasceu de um parto onde os proprios medicos estavam com medo de operar a mãe dela, do quanto ela foi forte, do como a vida dela significava pra mim por implorar pra ser aberta em um quadro de presão arterial tão alta só pra salvar ela. Deus foi muito misericordioso com agente, e é claro que tudo isso só serviu para me fortalecer espiritualmente, a Fé move mesmo a mão de Deus!
Foto do dia 09 que a mamãe tirou assim que chegou na enfermaria e começou a babar |
Pronta para ir pra casa 10-11O post ficou grande, mas acho que falei relatei tudinho... Beijoos |